Os Maias por Ricardo Araújo Pereira
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Os Maias por Ricardo Araújo Pereira
Era uma vez um gajo chamado Carlos, que vivia numa casa tão grande que levava p’raí umas vinte páginas a dizer como é que era. Quem gosta de imobiliário, tem aqui um petisco, porque aquilo tem assoalhadas grandes e boas e, pronto, mas p’ra mim não serve, que eu imóveis só com a fotografia, que às vezes um gajo é artista a escrever e depois uma pessoa vai a ver a casa e não tem nada a ver com o que imaginou.
Portanto, o gajo chama-se Carlos e o pai matou-se quando ele era pequeno, porque a mulher fugiu com um italiano e levou a filha que eles também tinham e… e ele matou-se, não faz sentido, porque o que não falta p’raí são gajas. Ora o puto fica com o avô e tal, vai crescendo e torna-se um gajo fino, bem vestido e que vai a boas festas.
Às tantas vê uma gaja e pensa: “Ui, que gaja tão boa!” e p’raí na página 400 começam a ir para a cama os dois e andam aí umas boas 200 páginas, pim, pim, troca e vira e agora nesta casa e agora naquela e pumba e… só que às tantas vem um gajo e diz: “-Eh pá, olha que a moça é tua irmã!” e o Carlos fica “eh pá, isso não pode ser, que nojo!” de maneiras que dá-lhe só mais duas ou três trolitadas e vai dar uma volta ao mundo, para espairecer, e acaba tudo em bem porque, ao menos, não tiveram filhos.
Porque se tivessem eram, de certeza, meio tantans, babavam-se, como o meu primo Zé Luís, que os pais também eram parentes.
Os Lusíadas é um coiso épico, mesmo, quer dizer que é escrito com uma cagança, mesmo fanfarrona – ´’tá ali uma coisa de artista, porque é tudo a rimar, só que às vezes não se percebe bem o que ele diz, mas, mais ou menos, aquilo é a história… é o Vasco da Gama, que quando começa já vai em Moçambique, e um gajo pensa, isto é bem feito, vamos logo ao que interessa, já estamos quase a chegar à Índia, só que o Vasco da Gama vai falar com um rei e pena “Tu tens a mania que és fino, mas eu vou-te mostrar quem são os portugueses” e começa-lhe a contar a história de Portugal desde o princípio, tudo explicadinho, como é que foi, como é que não foi, quando dá por ela, está no Canto VI e diz ele: “-Eh pá, olha para as horas, vamos andando que ainda temos de passar na Índia, que eu não me posso esquecer de lá ir”.
Foram-se embora, anda à porrada com Mouros e Deuses muito antigos, borram-se todos lá com o monstro que aparece, mas vale a pena, porque chegam a uma ilha que tem gajas mesmo boas, mesmo ótimas gajas, depois voltam para Portugal.
ENSINAMENTOS DA OBRA
Se queres ir às gajas, vai no estrangeiro, estás à vontade e a tua mulher não sabe de nada. Isto aqui é um meio muito pequeno e sabe-se tudo sempre e, além disso, quando dás por ti, estás na cama com a tua irmã. Assim, vais à Índia e estás sossegado, porque, em princípio, lá não tens parentes.
Por Ricardo Araújo Pereira
Portanto, o gajo chama-se Carlos e o pai matou-se quando ele era pequeno, porque a mulher fugiu com um italiano e levou a filha que eles também tinham e… e ele matou-se, não faz sentido, porque o que não falta p’raí são gajas. Ora o puto fica com o avô e tal, vai crescendo e torna-se um gajo fino, bem vestido e que vai a boas festas.
Às tantas vê uma gaja e pensa: “Ui, que gaja tão boa!” e p’raí na página 400 começam a ir para a cama os dois e andam aí umas boas 200 páginas, pim, pim, troca e vira e agora nesta casa e agora naquela e pumba e… só que às tantas vem um gajo e diz: “-Eh pá, olha que a moça é tua irmã!” e o Carlos fica “eh pá, isso não pode ser, que nojo!” de maneiras que dá-lhe só mais duas ou três trolitadas e vai dar uma volta ao mundo, para espairecer, e acaba tudo em bem porque, ao menos, não tiveram filhos.
Porque se tivessem eram, de certeza, meio tantans, babavam-se, como o meu primo Zé Luís, que os pais também eram parentes.
Os Lusíadas é um coiso épico, mesmo, quer dizer que é escrito com uma cagança, mesmo fanfarrona – ´’tá ali uma coisa de artista, porque é tudo a rimar, só que às vezes não se percebe bem o que ele diz, mas, mais ou menos, aquilo é a história… é o Vasco da Gama, que quando começa já vai em Moçambique, e um gajo pensa, isto é bem feito, vamos logo ao que interessa, já estamos quase a chegar à Índia, só que o Vasco da Gama vai falar com um rei e pena “Tu tens a mania que és fino, mas eu vou-te mostrar quem são os portugueses” e começa-lhe a contar a história de Portugal desde o princípio, tudo explicadinho, como é que foi, como é que não foi, quando dá por ela, está no Canto VI e diz ele: “-Eh pá, olha para as horas, vamos andando que ainda temos de passar na Índia, que eu não me posso esquecer de lá ir”.
Foram-se embora, anda à porrada com Mouros e Deuses muito antigos, borram-se todos lá com o monstro que aparece, mas vale a pena, porque chegam a uma ilha que tem gajas mesmo boas, mesmo ótimas gajas, depois voltam para Portugal.
ENSINAMENTOS DA OBRA
Se queres ir às gajas, vai no estrangeiro, estás à vontade e a tua mulher não sabe de nada. Isto aqui é um meio muito pequeno e sabe-se tudo sempre e, além disso, quando dás por ti, estás na cama com a tua irmã. Assim, vais à Índia e estás sossegado, porque, em princípio, lá não tens parentes.
Por Ricardo Araújo Pereira
Raquel Machado- Simply the best
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Re: Os Maias por Ricardo Araújo Pereira
É um gajo engraçado...hoje acho que vai entrevistar uma Jibóia
Raquel Machado- Simply the best
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Re: Os Maias por Ricardo Araújo Pereira
Tb é verdade..
Raquel Machado- Simply the best
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Re: Os Maias por Ricardo Araújo Pereira
Raquel Machado escreveu:Era uma vez um gajo chamado Carlos, que vivia numa casa tão grande que levava p’raí umas vinte páginas a dizer como é que era. Quem gosta de imobiliário, tem aqui um petisco, porque aquilo tem assoalhadas grandes e boas e, pronto, mas p’ra mim não serve, que eu imóveis só com a fotografia, que às vezes um gajo é artista a escrever e depois uma pessoa vai a ver a casa e não tem nada a ver com o que imaginou.
Portanto, o gajo chama-se Carlos e o pai matou-se quando ele era pequeno, porque a mulher fugiu com um italiano e levou a filha que eles também tinham e… e ele matou-se, não faz sentido, porque o que não falta p’raí são gajas. Ora o puto fica com o avô e tal, vai crescendo e torna-se um gajo fino, bem vestido e que vai a boas festas.
Às tantas vê uma gaja e pensa: “Ui, que gaja tão boa!” e p’raí na página 400 começam a ir para a cama os dois e andam aí umas boas 200 páginas, pim, pim, troca e vira e agora nesta casa e agora naquela e pumba e… só que às tantas vem um gajo e diz: “-Eh pá, olha que a moça é tua irmã!” e o Carlos fica “eh pá, isso não pode ser, que nojo!” de maneiras que dá-lhe só mais duas ou três trolitadas e vai dar uma volta ao mundo, para espairecer, e acaba tudo em bem porque, ao menos, não tiveram filhos.
Porque se tivessem eram, de certeza, meio tantans, babavam-se, como o meu primo Zé Luís, que os pais também eram parentes.
Os Lusíadas é um coiso épico, mesmo, quer dizer que é escrito com uma cagança, mesmo fanfarrona – ´’tá ali uma coisa de artista, porque é tudo a rimar, só que às vezes não se percebe bem o que ele diz, mas, mais ou menos, aquilo é a história… é o Vasco da Gama, que quando começa já vai em Moçambique, e um gajo pensa, isto é bem feito, vamos logo ao que interessa, já estamos quase a chegar à Índia, só que o Vasco da Gama vai falar com um rei e pena “Tu tens a mania que és fino, mas eu vou-te mostrar quem são os portugueses” e começa-lhe a contar a história de Portugal desde o princípio, tudo explicadinho, como é que foi, como é que não foi, quando dá por ela, está no Canto VI e diz ele: “-Eh pá, olha para as horas, vamos andando que ainda temos de passar na Índia, que eu não me posso esquecer de lá ir”.
Foram-se embora, anda à porrada com Mouros e Deuses muito antigos, borram-se todos lá com o monstro que aparece, mas vale a pena, porque chegam a uma ilha que tem gajas mesmo boas, mesmo ótimas gajas, depois voltam para Portugal.
ENSINAMENTOS DA OBRA
Se queres ir às gajas, vai no estrangeiro, estás à vontade e a tua mulher não sabe de nada. Isto aqui é um meio muito pequeno e sabe-se tudo sempre e, além disso, quando dás por ti, estás na cama com a tua irmã. Assim, vais à Índia e estás sossegado, porque, em princípio, lá não tens parentes.
Por Ricardo Araújo Pereira
Gostei mais desta versão porque a outra é muito chata
Ana Baptista- Muito bom
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Idade : 43
Raquel Ribeiro- Médio
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