Os homens também sofrem com desigualdade de género
5 participantes
Página 1 de 1
Os homens também sofrem com desigualdade de género
Os homens também sofrem com desigualdade de género
Alexandre Homem Cristo
O debate sobre a desigualdade de género faz bem à sociedade portuguesa. Mas, para não se tornar parte do problema, não pode ficar refém de uma visão enviesada (exclusivo das mulheres) e maniqueísta.
Na véspera do dia internacional da mulher, celebrado e justamente associado à luta contra a desigualdade de género, tenho noção que este título cai um pouco como uma mosca na sopa. Mas, se tem algo de provocatório, também não diz nada que não seja evidente: a desigualdade de género não é um exclusivo das mulheres. Dizê-lo não deixa, contudo, de ser contracorrente, porque o debate se foca principalmente nas desigualdades que atingem mulheres – em grande medida, porque essas situações são, não haja dúvida, muito mais numerosas e gravosas. E isso afecta a própria compreensão do problema: quando uma evidência (haver desigualdade de género para homens) pode ser confundida com uma provocação, está encontrado um enviesamento no próprio debate. Parte desse enviesamento tem raiz na conversão dos debates sobre desigualdade de género em braços-de-ferro persecutórios de mulheres contra homens – uma perspectiva conflituosa que impede avanços mais significativos.
É praticamente consensual (e ainda bem) que o género é um factor imprescindível quando se desenham políticas. Ou seja, não o ter em conta faz com que, inevitavelmente, desequilíbrios sejam gerados. Sim, na maior parte das vezes, prejudicando as mulheres em desigualdades salariais, conciliação familiar ou acesso a cargos de topo – em muitos sectores, Portugal ainda é um país culturalmente machista. Mas, noutras ocasiões, prejudicando silenciosamente os homens – e isso não deve ser ignorado. E, sublinhe-se, para as políticas públicas, o ponto não deve ser aritmético, impondo uma igualdade radical e numérica de género em todos os sectores da sociedade. O ponto está em ter o género como factor relevante para a análise e tomada de decisão política, caso a caso, prevenindo desequilíbrios artificiais.
Essa necessidade observa-se em muitas áreas, desde a Saúde à Administração Pública em geral. Na Educação, ela é particularmente saliente e, sendo a Educação a raiz de quase tudo, condiciona estruturalmente o futuro do país. Veja-se o caso do abandono escolar, cujo combate é uma prioridade política – a taxa de abandono escolar foi, em 2018, de 11,8% (era de 34,9% em 2008). O que esta média esconde é que o desafio é muito mais severo nos rapazes (em 2017, 15%) do que nas raparigas (10%). Algo semelhante ao que acontece no acesso ao ensino superior: nos últimos 25 anos, todos os anos matriculam-se pela 1.ª vez mais mulheres do que homens – actualmente, é um fosso à volta de 13 mil matrículas por ano. Ou seja, os rapazes estão a ficar mais facilmente para trás e, a longo prazo, isto vai criar uma desigualdade de género estrutural nas qualificações da população portuguesa – uma diferenciação de género que tem de ser tida em conta na tomada de decisão das políticas públicas, nomeadamente em programas de fixação dos rapazes na escola e no ensino superior.
Outro exemplo, agora no sentido contrário: são menos as raparigas que optam por estudos e carreiras nas áreas científicas. Será uma tendência natural ou resultado de uma desigualdade de género artificial? Os dados são claros: os dois – mas mais o segundo do que o primeiro. Por um lado, é certo que os resultados das avaliações PISA apontam que, em média, os rapazes mostram-se mais confiantes e obtêm desempenhos mais altos nas provas científicas do que em leitura – e que, no caso das raparigas, se forem igualmente boas nas áreas científicas tendem a ser ainda melhores em leitura. Traduzindo, há maior inclinação dos rapazes para essas áreas. Mas, por outro lado, isso não afasta a constatação de que, pelos dados da OCDE, 34% das raparigas de 15 anos tenham perfil educativo para seguir essas carreiras científicas e apenas 28% o façam – ou seja, o que as afasta dessas vias não é o seu desempenho académico. Uma explicação possível poderia ser a das expectativas familiares: como se trata de uma área tradicionalmente masculina, são as próprias famílias das alunas a diminuir as expectativas de ingresso nas vias científicas. Estes dados da OCDE parecem indiciar isso mesmo e, no caso português, constata-se que 27% dos pais tem menores expectativas de prossecução de carreira científica para as suas filhas (isto quando os seus desempenhos a matemática são iguais aos dos rapazes). Neste caso, há uma desigualdade de género que prejudica as raparigas e que, sendo possivelmente cultural, a escola tem o dever de contrariar.
Estes desequilíbrios são geralmente tratados cegamente, indiferenciando o género. Olha-se apenas para o número de alunos que seguem para o ensino superior, para a média do abandono escolar ou para as notas de entrada nos cursos científicos – tudo sem perceber as desigualdades de género que esses números escondem e às quais o sistema educativo não responde. É isso que cada vez mais falta nos debates da desigualdade de género – até porque, seja na Educação ou noutras áreas, há formas eficazes de introduzir esta preocupação nas políticas públicas de forma transversal, para mulheres e homens. É inegável que o debate público sobre a desigualdade de género é ainda relativamente recente e tem feito muito bem à sociedade portuguesa. Mas, para não se tornar parte do problema, não se pode deixar ficar refém de uma visão enviesada (que demasiadas vezes trata o tema como exclusivo das mulheres) e, por isso, maniqueísta.
Alexandre Homem Cristo
Observador
Alexandre Homem Cristo
O debate sobre a desigualdade de género faz bem à sociedade portuguesa. Mas, para não se tornar parte do problema, não pode ficar refém de uma visão enviesada (exclusivo das mulheres) e maniqueísta.
Na véspera do dia internacional da mulher, celebrado e justamente associado à luta contra a desigualdade de género, tenho noção que este título cai um pouco como uma mosca na sopa. Mas, se tem algo de provocatório, também não diz nada que não seja evidente: a desigualdade de género não é um exclusivo das mulheres. Dizê-lo não deixa, contudo, de ser contracorrente, porque o debate se foca principalmente nas desigualdades que atingem mulheres – em grande medida, porque essas situações são, não haja dúvida, muito mais numerosas e gravosas. E isso afecta a própria compreensão do problema: quando uma evidência (haver desigualdade de género para homens) pode ser confundida com uma provocação, está encontrado um enviesamento no próprio debate. Parte desse enviesamento tem raiz na conversão dos debates sobre desigualdade de género em braços-de-ferro persecutórios de mulheres contra homens – uma perspectiva conflituosa que impede avanços mais significativos.
É praticamente consensual (e ainda bem) que o género é um factor imprescindível quando se desenham políticas. Ou seja, não o ter em conta faz com que, inevitavelmente, desequilíbrios sejam gerados. Sim, na maior parte das vezes, prejudicando as mulheres em desigualdades salariais, conciliação familiar ou acesso a cargos de topo – em muitos sectores, Portugal ainda é um país culturalmente machista. Mas, noutras ocasiões, prejudicando silenciosamente os homens – e isso não deve ser ignorado. E, sublinhe-se, para as políticas públicas, o ponto não deve ser aritmético, impondo uma igualdade radical e numérica de género em todos os sectores da sociedade. O ponto está em ter o género como factor relevante para a análise e tomada de decisão política, caso a caso, prevenindo desequilíbrios artificiais.
Essa necessidade observa-se em muitas áreas, desde a Saúde à Administração Pública em geral. Na Educação, ela é particularmente saliente e, sendo a Educação a raiz de quase tudo, condiciona estruturalmente o futuro do país. Veja-se o caso do abandono escolar, cujo combate é uma prioridade política – a taxa de abandono escolar foi, em 2018, de 11,8% (era de 34,9% em 2008). O que esta média esconde é que o desafio é muito mais severo nos rapazes (em 2017, 15%) do que nas raparigas (10%). Algo semelhante ao que acontece no acesso ao ensino superior: nos últimos 25 anos, todos os anos matriculam-se pela 1.ª vez mais mulheres do que homens – actualmente, é um fosso à volta de 13 mil matrículas por ano. Ou seja, os rapazes estão a ficar mais facilmente para trás e, a longo prazo, isto vai criar uma desigualdade de género estrutural nas qualificações da população portuguesa – uma diferenciação de género que tem de ser tida em conta na tomada de decisão das políticas públicas, nomeadamente em programas de fixação dos rapazes na escola e no ensino superior.
Outro exemplo, agora no sentido contrário: são menos as raparigas que optam por estudos e carreiras nas áreas científicas. Será uma tendência natural ou resultado de uma desigualdade de género artificial? Os dados são claros: os dois – mas mais o segundo do que o primeiro. Por um lado, é certo que os resultados das avaliações PISA apontam que, em média, os rapazes mostram-se mais confiantes e obtêm desempenhos mais altos nas provas científicas do que em leitura – e que, no caso das raparigas, se forem igualmente boas nas áreas científicas tendem a ser ainda melhores em leitura. Traduzindo, há maior inclinação dos rapazes para essas áreas. Mas, por outro lado, isso não afasta a constatação de que, pelos dados da OCDE, 34% das raparigas de 15 anos tenham perfil educativo para seguir essas carreiras científicas e apenas 28% o façam – ou seja, o que as afasta dessas vias não é o seu desempenho académico. Uma explicação possível poderia ser a das expectativas familiares: como se trata de uma área tradicionalmente masculina, são as próprias famílias das alunas a diminuir as expectativas de ingresso nas vias científicas. Estes dados da OCDE parecem indiciar isso mesmo e, no caso português, constata-se que 27% dos pais tem menores expectativas de prossecução de carreira científica para as suas filhas (isto quando os seus desempenhos a matemática são iguais aos dos rapazes). Neste caso, há uma desigualdade de género que prejudica as raparigas e que, sendo possivelmente cultural, a escola tem o dever de contrariar.
Estes desequilíbrios são geralmente tratados cegamente, indiferenciando o género. Olha-se apenas para o número de alunos que seguem para o ensino superior, para a média do abandono escolar ou para as notas de entrada nos cursos científicos – tudo sem perceber as desigualdades de género que esses números escondem e às quais o sistema educativo não responde. É isso que cada vez mais falta nos debates da desigualdade de género – até porque, seja na Educação ou noutras áreas, há formas eficazes de introduzir esta preocupação nas políticas públicas de forma transversal, para mulheres e homens. É inegável que o debate público sobre a desigualdade de género é ainda relativamente recente e tem feito muito bem à sociedade portuguesa. Mas, para não se tornar parte do problema, não se pode deixar ficar refém de uma visão enviesada (que demasiadas vezes trata o tema como exclusivo das mulheres) e, por isso, maniqueísta.
Alexandre Homem Cristo
Observador
Raquel Machado- Simply the best
- Mensagens : 977
Pontos : 2098
Reputação : 89
Data de inscrição : 13/01/2019
Localização : Lisboa
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Eu noto isso. sobretudo quando ando contigo ao lado.
É que sozinho, olham para mim..quando vou contigo, homens e mulheres (o que é mais extraordinário), olham só para ti.
É um desprezo horrível. Sinto-me discriminado.
É que sozinho, olham para mim..quando vou contigo, homens e mulheres (o que é mais extraordinário), olham só para ti.
É um desprezo horrível. Sinto-me discriminado.
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Mário Machado escreveu:Eu noto isso. sobretudo quando ando contigo ao lado.
É que sozinho, olham para mim..quando vou contigo, homens e mulheres (o que é mais extraordinário), olham só para ti.
É um desprezo horrível. Sinto-me discriminado.
ahahahahahah
Barão Vermelho- Simply the best
- Mensagens : 826
Pontos : 1900
Reputação : 22
Data de inscrição : 13/01/2019
Localização : Almourol Castle
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Mário Machado escreveu:Eu noto isso. sobretudo quando ando contigo ao lado.
É que sozinho, olham para mim..quando vou contigo, homens e mulheres (o que é mais extraordinário), olham só para ti.
É um desprezo horrível. Sinto-me discriminado.
É verdade, também porque as que tinham a audácia de olhar, já estão debaixo de terra.
Raquel Machado- Simply the best
- Mensagens : 977
Pontos : 2098
Reputação : 89
Data de inscrição : 13/01/2019
Localização : Lisboa
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Mário Machado escreveu: pois...pode ter sido isso
Paz as suas almas.
AhHhaHhah
Raquel Machado- Simply the best
- Mensagens : 977
Pontos : 2098
Reputação : 89
Data de inscrição : 13/01/2019
Localização : Lisboa
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Raquel Machado escreveu:Mário Machado escreveu:Eu noto isso. sobretudo quando ando contigo ao lado.
É que sozinho, olham para mim..quando vou contigo, homens e mulheres (o que é mais extraordinário), olham só para ti.
É um desprezo horrível. Sinto-me discriminado.
É verdade, também porque as que tinham a audácia de olhar, já estão debaixo de terra.
Há que meter ai um disclaimer a dizer que é uma brincadeira, se não já estou a ver os jornais "Raquel Machado admite publicamente ter enterrado rivais, não se sabe se ainda estavam com vida ou já mortas!"
Billy the Kid- Admin
- Mensagens : 560
Pontos : 625
Reputação : 59
Data de inscrição : 14/01/2019
Idade : 45
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Eu noto muito no restaurante!!! Porque raio os empregados de sala colocam sempre a conta(a frente do homem e nao da mulher) a minha frente????
Sinto-me discriminado...
Sinto-me discriminado...
goncalo.j.f.marques- Simply the best
- Mensagens : 491
Pontos : 637
Reputação : 46
Data de inscrição : 18/01/2019
Localização : Rio Maior
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Btk..é melhor é.
Gonçalo, isso já chamam de discriminação positiva ahahahah
Gonçalo, isso já chamam de discriminação positiva ahahahah
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Billy the Kid escreveu:Raquel Machado escreveu:Mário Machado escreveu:Eu noto isso. sobretudo quando ando contigo ao lado.
É que sozinho, olham para mim..quando vou contigo, homens e mulheres (o que é mais extraordinário), olham só para ti.
É um desprezo horrível. Sinto-me discriminado.
É verdade, também porque as que tinham a audácia de olhar, já estão debaixo de terra.
Há que meter ai um disclaimer a dizer que é uma brincadeira, se não já estou a ver os jornais "Raquel Machado admite publicamente ter enterrado rivais, não se sabe se ainda estavam com vida ou já mortas!"
Vão já aproveitar isto para dizer que somos violentos Ahahahah
Raquel Machado- Simply the best
- Mensagens : 977
Pontos : 2098
Reputação : 89
Data de inscrição : 13/01/2019
Localização : Lisboa
Re: Os homens também sofrem com desigualdade de género
Falando mais a sério. Há imensa discriminação contra homens sim.
Um exemplo que me salta à vista tem a ver com a separação de casais e tutela dos filhos.
Uma decisão que deveria ser independente do sexo. Que a meu ver se deveria analisar séria-mente qual a melhor solução para a criança e até ouvir a criança sem que o sistema judicial preferisse a mãe ou o pai.
E a realidade é.... 99% dos casos as crianças entregues ás mães. Não quero acreditar que em 99% dos casos fosse esta a solução melhor para a criança. Mas pronto...
No trabalho existe, no tribunal existe, na rua....existe discriminação para ambos os lados...
O resto...os devaneios das feministas...isso não passa de diferenciação de sexos (discriminação é outra coisa).
Abraço
Um exemplo que me salta à vista tem a ver com a separação de casais e tutela dos filhos.
Uma decisão que deveria ser independente do sexo. Que a meu ver se deveria analisar séria-mente qual a melhor solução para a criança e até ouvir a criança sem que o sistema judicial preferisse a mãe ou o pai.
E a realidade é.... 99% dos casos as crianças entregues ás mães. Não quero acreditar que em 99% dos casos fosse esta a solução melhor para a criança. Mas pronto...
No trabalho existe, no tribunal existe, na rua....existe discriminação para ambos os lados...
O resto...os devaneios das feministas...isso não passa de diferenciação de sexos (discriminação é outra coisa).
Abraço
goncalo.j.f.marques- Simply the best
- Mensagens : 491
Pontos : 637
Reputação : 46
Data de inscrição : 18/01/2019
Localização : Rio Maior
Tópicos semelhantes
» Desigualdade de género estará a afetar a natalidade em Portugal
» Depois dos aumentos, combustíveis sofrem alívio na próxima semana
» Tese de mestrado sobre as milhares de agressões anuais que os Polícias sofrem.
» A casa que também foi “presa”…
» Salazar a culpa disto também foi tua?
» Depois dos aumentos, combustíveis sofrem alívio na próxima semana
» Tese de mestrado sobre as milhares de agressões anuais que os Polícias sofrem.
» A casa que também foi “presa”…
» Salazar a culpa disto também foi tua?
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos