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Franclim, o narco Português

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Mensagem por Barão Vermelho Ter Mar 26, 2019 10:24 pm

“Os polícias prendem-me com medo, tremem. Julgam que tenho 2 metros. Esta mitificação é perigosa para mim”: Franclim, o narco português.
Franclim - assim mesmo, com c e não com q ou k - foi considerado um dos maiores narcotraficantes portugueses. Fugiu à polícia quando saltou da janela de um hotel e só anos depois o apanharam - esta semana. Na prisão citou Fernando Pessoa para justificar porque defende a liberalização do negócio da droga - que “até pode ser o Estado a tomar conta dele”. Tem 63 anos e voltou a ser detido pela Polícia Judiciária. Desta vez no âmbito da Operação Aquiles, que tem elementos das autoridades como arguidos.
16 de outubro de 1999. Sábado. Noite.
Local: algures num hotel no centro de Lisboa.
Acontecimento: “O pulo do Lobo”.
Franclim Pereira Lobo, então com 43 anos, ajudava a polícia judiciária a apanhar cerca de duas toneladas de cocaína. Era peça fundamental da investigação e as autoridades mantinham-no num hotel na Avenida Duque de Loulé, bem no centro de Lisboa, e a poucos metros da Direcção Central de Investigação ao Tráfico de Estupefacientes. Embora com dois agentes à porta - estava sempre sob vigia -, a meio da noite de sábado percebeu que tinha a oportunidade de desaparecer. Saltou pela janela do quarto no primeiro andar, fugiu (“ainda dei cabo do pé”) e durante quatro anos ninguém soube nada dele.
Portanto, corrigimos: Franclim Pereira Lobo, então com 43 anos, enganava a Polícia Judiciária, levando-a a acreditar que iria ajudar a apanhar cerca de duas toneladas de cocaína. Tudo história.
Naquela noite, Franclim manipulou os agentes que ali estavam, ganhou a sua confiança. E eles baixaram a guarda. Aliás, era sempre isso que aquele que foi o maior narcotraficante do país fazia: seduzia as pessoas. Tinha charme, conversa com toda a gente. Conta quem o conhece que praticamente todas as assistentes sociais que trabalharam nos casos de Franclim se apaixonaram, que acabaram suas namoradas ( numa entrevista anos mais tarde ao Expresso, falaria até de uma namorada que era estagiária na prisão e que se encontrava com ele a cada 15 dias). Elas eram sempre bem mais novas e muito bonitas, dizem.
Nos final dos anos 90 e nos primeiros anos do novo século, o Lobo, como também era conhecido, era uma dor de cabeça para as autoridades. Tinha ligações a cartéis sul-americanos e a grupos galegos e do Norte de África. Atualmente estava em vigor uma mandado de detenção europeu em nome dele.
Franclim Pereira Lobo foi detido em Málaga, Espanha, confirmou esta segunda-feira a direção da Polícia Judiciária (PJ) no âmbito da Operação Aquiles, que envolve crimes de tráfico de droga, associação criminosa e corrupção passiva e ativa. Entre os 27 arguidos estão dois inspetores da PJ.

“Sou um mito da PJ”
Nasceu em Vermelha, no Cadaval, para lá de Torres Vedras e antes de chegar às Caldas da Rainha. A família é grande: tem sete irmãs e três filhos (a sua filha também foi detida nos anos 2000 em Espanha). Gostava de póquer, escrevia o “Jornal de Notícias” em 2005.
Chegou ao mundo da droga já tinha 30 anos. “Estava farto de trabalhar e não via [mais] nada.” Os negócios que antes tentara correram todos mal. “Aconteceu, foi uma inconsciência. A vida não é a preto e branco. Há zonas cinzentas. O tráfico é uma delas. Quem não tem ambição está morto.” E garantia que não conhecia nenhum traficante que esteve bem na vida. “Ou estão presos ou acabam sem dinheiro.”
O auge foi nos anos 80. Chegou mesmo a ser condenado a 18 anos de cadeia, cumpriu apenas sete. “Apesar de achar que fui mal condenado, aceitei e interiorizei a pena porque tinha culpa”, contou ao Expresso. Quando fingiu que colaborava com as autoridades, já a sua carreira estava em declínio, diz quem participou nas operações à época. Continuou no negócio e eis que chegamos a 1999, àquela noite no primeiro andar do hotel Melia. O insólito da fuga aconteceu.
Depois do “Pulo do Lobo”, a “Toca do Lobo”. Assim se chamava a operação engendrada pelas autoridades, que só em 2004 conseguiram deter Franclim. Estava em Fuenjirola, no Sul de Espanha. Lá viveu do imobiliário, construiu um império de 40 milhões de euros financiado quase na totalidade pela banca, mas sem nunca usar o seu nome verdadeiro porque, afinal, era um fugitivo. “Usava o nome Francisco Arraya”. Entretanto, ainda sem ninguém saber onde estava ele, foi condenado em Portugal à revelia a 25 anos de cadeia. Recorreu da decisão, claro. E venceu, o que surpreendeu.
Foi libertado sob grandes críticas das autoridades, que continuavam a assegurar que Fraclim era criminoso, que vivia do tráfico de droga e que era o maior narcotraficante do país. Fontes judiciais acreditavam que a sua absolvição se devia a um erro: faltava um sistema de informação centralizado, com o registo de todos os processos-crime pendentes. E Franclim tinha muitos desses, mas a informação não estava cruzada. Foi libertado.
“Eu sou um mito da PJ. Eles vivem de louvores e dos grandes nomes que apanham, por isso é que precisam de mim. É irreal. Os polícias quando me vêm prender vêm com medo, a tremer. Julgam que eu tenho dois metros. No Brasil ameaçaram-me logo com um tiro. Esta mitificação é perigosa para mim. Eu escapei neste e no processo de Sesimbra porque não tenho nada que ver com tráfico”, contou Lobo ao Expresso.
Saiu da prisão e foi festejar com os filhos.
“Eu sou uma boa pessoa. Na prisão até às moscas ganhei amizade. Só Deus e os loucos gostam de estar sozinhos”, dizia.
Voou para o Brasil. Foi preso em Janeiro de 2005. Saiu, foi julgado em 2007 e absolvido. Em março de 2009 foi mais uma vez detido por suspeita de tráfico de estupefacientes e associação criminosa. Não reagiu nem tentou fugir, relatava a edição semanal do Expresso. Trazia no bolso do casaco uma folha manuscrita com as matrículas de dezenas de carros da unidade da PJ que investiga o tráfico de droga.
Numa das últimas entrevistas que deu, em 2013 à Antena 1, estava ainda preso no estabelecimento prisional de Vale Judeus e não negava o negócio que construiu ao longo dos anos. “Não sou nenhum santo e trafiquei. Não digo que não trafiquei. Só que a Polícia Judiciária, por incompetência, teve sempre dificuldade em prender.me dentro da legalidade”, dizia o então preso 489.
“É antes do ópio que a minha alma está doente.” Franclim citava Fernando Pessoa para defender a liberalização do negócio da droga. “E o Estado a tomar conta dele se fosse preciso.” Ali, atrás das grades, garantia que tivera tempo para refletir e que embora não quisesse voltar a entrar numa prisão, se fosse preciso voltar a traficar prometia que o faria.
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